Um fadista...
Um amigo...
Uma voz que nos espanta de tanto talento e emoção... Uma voz que dá cor aos sentidos...
Um "grito" que desperta as nossas vidas...

BRAVO GONÇALO SALGUEIRO!



sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Entrevista à revista Caras (Junho 2007)



Um pouco atrasada, mas é sempre mais uma entrevista com o nosso querido Gonçalo...

“A Carreira ainda é curta mas Gonçalo Salgueiro tem dado cartas como actor em diversos musicais e sobretudo como fadista. Com dois álbuns s solo editados, é considerado uma das melhores vozes do fado. O terceiro disco está na forja, mas para já concentra-se no papel de Jesus Cristo que interpreta no musical de Tim Rice e Andrew Lloyd Webber agora adoptado por Filipe La Féria.

- Como foi o trabalho de preparação para esta peça?

GS – Intensivo, um verdadeiro tratamento de choque, mas tenho sido muito ajudado. Confesso que estou assustado, porque é um papel emotivo, muito exigente vocalmente e também fisicamente. A primeira vez que o ensaie não parei de soluçar. O teatro ocupa 24 horas na vida de uma pessoa, é extremamente absorvente. O Porto merece u espectáculo em grande como este.

- O encenador Filipe La Féria tem o mau feitio que se diz?

GS – Todos os encenadores cultivam o seu lado de loucura. Ele tem os seus rasgos de génio. É uma pessoa preocupada, calma, com uma paciência extraordinária. É muito bom trabalhar num ambiente de paz e serenidade.

- Os espectáculos teatrais não lhe tiram tempo para investir mais na carreira de cantor?

GS – Preparava-me para gravar outro disco, já está preparadíssimo, mas são opções. Eu gosto de palcos, quanto maior for o espaço mais íntimo o sinto.

Neste caso foi mesmo a opção de voltar a representar. Este trabalho é um desafio e permite-me aliar à música todas as outras artes que também me encantam. Vão ver um bom Jesus português.

- Apesar da carreira recente, o sucesso surgiu logo. Foi fácil chegar até aqui?

GS – As coisas não surgiram com facilidade, foram surgindo. Costumo dizer que sou um bafejado pela sorte, porque estou em casa e de repente telefonam-me. Devo ter um bom anjo-da-guarda que se lembra de mim. As coisas têm vindo ter comigo e têm acontecido numa sucessão de acasos. Um dia fui a uma casa de fados em Alfama e pediram-me para cantar um fado, acabei por cantar três. Depois integrar o elenco do musical Amália foi para mim uma honra. Aprendi muito do que é estar num palco e do trabalho árduo que é cantar todos os dias. Foi o que me lançou em termos artísticos, porque até aí não me levava muito a sério. Depois gravei o primeiro álbum.

- Já se leva a sério?

GS – Levo-me a sério como pessoa. Não tenho ambições de ser conhecido, famoso e rico. Quero ser feliz, ter saúde, paz e amor. Não vejo a vida artística como meio para chegar a lado nenhum, é o meu trabalho. Interessa-me tocar as pessoas, chegar ao coração de alguém, é aquilo de que preciso na arte.

- Associamos o fado e a vida dos fadistas à boémia e a um certo ar de marialva...

GS – Não sou nem quero ser. Nem gosto. Eu canto a Lágrima como a Amália escreveu, porque não tenho medo de cantar no feminino, isso é uma mariquice das virilidades que já não se usam. Um homem que é homem não tem medo de cantar um poema no feminino.


- Tragédia, solidão, tristeza são estados de espírito associados ao fado. È um solitário?

GS – Sou extremamente bem disposto, mas triste. Para mim a palavra “triste” não é negativa, caracteriza pessoas que talvez prestem mais atenção ao mundo e aos outros. A tristeza torna-nos mais sensíveis. Claro que me identifico com esses sentimentos que se referia. A tragédia, o drama, a solidão, o amor ou a ausência dele, a paixão, o amor correspondido ou não, a alegria, a maternidade, a amizade... O fado pode cantar tudo. Nós temos uma forma de expressão musical única no mundo que toca todos, mesmo que não percebam aquilo que estamos a dizer, são sentimentos únicos e universais. Todos sabem o que é a tristeza, o amor, o ódio, a vingança, a saudade.

- Falou das fases amorosas cantadas pelo fado, enamoramento, ausência de amor, paixão. Em qual delas se encontra?

GS – (risos) Estou muito feliz ...

- Ainda hoje cura os desgostos amorosos com o fado?

GS – (risos) Claro! Mas estou muito feliz, não tenho tido desgostos amorosos.”


Revista Caras

Paulo Castro Carvalho



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