Um fadista...
Um amigo...
Uma voz que nos espanta de tanto talento e emoção... Uma voz que dá cor aos sentidos...
Um "grito" que desperta as nossas vidas...

BRAVO GONÇALO SALGUEIRO!



sábado, 27 de outubro de 2007

É mesmo para acreditar... tirada há cerca de 2 horas! Ao frio e com nervoso miudinho...



Sem dúvida, simpatia e disponibilidade carregadas de emoção!
Depois de uma actuação, mais uma vez fantástica no musical "Jesus Cristo Super Star", o cansaço não deixou que Gonçalo se mostrasse como ele é: lindo, emocionado e cheio de vida... Bem haja Gonçalo! Agradecemos este momento de alegria e de verdadeira euforia também... Por cá te esperamos numa noite de fado, cantas e encantas com a força da tua alma!





Fantástico este tema de Pablo Neruda... Cantado por Gonçalo então é que fica fantástico! (Em Zamora)


Querer (Pablo Neruda)

Não te quero senão porque te quero
E de querer-te a não querer-te chego
E de esperar-te quando não te espero
Passa meu coração do frio ao fogo.

Te quero só porque a ti te quero,
Te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
E a medida de meu amor viageiro
É não ver-te e amar-te como um cego.

Talvez consumirá a luz de janeiro
Seu raio cruel, meu coração inteiro,
Roubando-me a chave do sossego.

Nesta história só eu morro
E morrerei de amor porque te quero,
Porque te quero, amor, a sangue e a fogo.

Para o Gonçalo...

Tamanha ousadia...

Que voz tão grande que é
com um sentir que faz bem
dá um grito, canta o fado
e com um sonho enamorado
traz na alma essa fé.

Só quero voltar a sonhar
esse poder tão esperado
de quem canta por amor
esta canção que é o fado
que em tudo me atormenta
esperança fugidia
de poder tocar um dia em tamanha ousadia.

Alguém já cantou assim
e continua hoje tão viva
a nossa Amália, que saudade!
Que de tanto amar o fado
deixou marcada em mim
uma paixão sem idade.

Nos olhos deste fadista
vejo o mar em terra firme
um caminho de talento
com um brilho muito atento
que cai de mansinho em nós
vou acordar e esperar
que um dia possa voltar
a ouvir tamanha voz...

Sónia ( a menina do principezinho!)

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Ninguém fica indiferente a este grito...



Grito

Silêncio!
Do silêncio faço um grito
O corpo todo me dói
Deixai-me chorar um pouco.

De sombra a sombra
Há um Céu...tão recolhido...
De sombra a sombra
Já lhe perdi o sentido.

Ao céu!
Aqui me falta a luz
Aqui me falta uma estrela
Chora-se mais
Quando se vive atrás dela.

E eu,
A quem o sol esqueceu
Sou a que o mundo perdeu
Só choro agora
Que quem morre já não chora.

Solidão!
Que nem mesmo essa é inteira...
Há sempre uma companheira
Uma profunda amargura.

Ai, solidão
Quem fora escorpião
Ai! solidão
E se mordera a cabeça!

Adeus
Já fui para além da vida
Do que já fui tenho sede
Sou sombra triste
Encostada a uma parede.

Adeus,
Vida que tanto duras
Vem morte que tanto tardas
Ai, como dói
A solidão quase loucura.

(Amália)

Um dos meus preferidos...



Medo

Quem dorme à noite comigo
É meu segredo,
Mas se insistirem, lhes digo,
O medo mora comigo,
Mas só o medo, mas só o medo.

E cedo porque me embala
Num vai-vem de solidão,
É com silêncio que fala,
Com voz de móvel que estala
E nos perturba a razão.

Gritar quem pode salvar-me
Do que está dentro de mim
Gostava até de matar-me,
Mas eu sei que ele há-de esperar-me
Ao pé da ponte do fim.

(Amália)

No Tempo das Cerejas



Que estranha forma usou Deus
Em dar aos sentidos meus
Um sabor inesperado
Cerejas, recordo bem,
Dizias tu minha mãe
Ser o meu tempo chegado

Parei à beira dum rio,
Onde já não sinto frio
Nem vontade de o cruzar
Foi o tempo em que a vida
Toda ela era sentida
Sob a luz do teu olhar

Cantando fui mais além
Eu fui eu, eu sou alguém
Nos versos da minha vida
Trouxe fados nos sentidos
Lágrimas em sonhos perdidos
Numa eterna despedida

P'ra mim foi sempre assim
Tudo começa no fim
Onde quer que me vejas
Pensando partir fiquei
Presa ao tempo em que me dei
Recordando essas cerejas

(Amália)

uma vida de talento


"viva meu nome, minha voz, meu fado!"


Nasceu em Montemor-O-Novo a 7 de Novembro. Aos 17 anos veio para Lisboa cursar Relações Internacionais e estudou no Conservatório Nacional de Lisboa, na área de Canto, participando no "Coral de S. Domingos", nas Obras "Da Pacem Domine" e "Mare Fatum Est". Canta pela primeira vez Fado, em público, a convite de Maria da Fé, no Restaurante "Senhor Vinho”.
Desde Abril de 2000 a Julho 2001, e a convite do encenador Filipe La Féria, entra para o Musical

"Amália", como cantor/actor, no papel de Eduardo Ricciardi. Sob a direcção do Maestro Fernando Correia Martins, participa no CD comemorativo dos 150 anos sobre o nascimento do compositor Thomaz Del-Negro. A convite de João Braga, canta na noite de homenagem a Amália Rodrigues, espectáculo transmitido, em directo, pela TVI.
Em Março de 2002 assina contrato com a editora Strauss e grava o seu primeiro álbum a solo "…No Tempo das Cerejas". Ainda em 2002, é convidado pelo músico/compositor José da Ponte a gravar "Lusitana Paixão" da telenovela com o mesmo nome para a RTP. Em Setembro, estreia-se no Salão “Preto e Prata” do Casino Estoril no musical "Egoísta" onde permanece até Fevereiro de 2004.
Em 2003 dá inicio aos preparativos dum novo álbum. Durante 2005, efectua concertos a solo e integra vários espectáculos por todo o país e estrangeiro, editando o CD em 2006.
Gonçalo Salgueiro é o protagonista de “Jesus Cristo Superstar” de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice, o espectáculo de Filipe La Féria, onde interpreta o papel de Jesus Cristo.


sábado, 20 de outubro de 2007

Em entrevista ao Audiência...

“Vou ficar completamente de rastos”, confessa Pedro Bargado. “Estou com muito medo, porque, provavelmente, não vou ser capaz de cantar no último dia”, corrobora Gonçalo Salgueiro. É assim o estado de espírito dos intérpretes das duas incontornáveis personagens de «Jesus Cristo Superstar», a poucos dias de o musical de Filipe La Féria ir a cena pela última vez no Teatro Rivoli. Em entrevista ao AUDIÊNCIA, feita, à hora do lanche, no El Corte Inglés, Pedro Bargado (Judas) e Gonçalo Salgueiro (Jesus) admitem mesmo já estar a sofrer por antecipação, vítimas de uma ansiedade que lhes é comum mas que se manifesta de maneira diferente. Se Judas, vulgo, Pedro Bargado já está “farto de chorar”, Jesus de Nazaré, ou melhor, Gonçalo Salgueiros tem mesmo “medo de não conseguir cantar no último dia” do espectáculo no Rivoli. Fadista, sportinguista e devoto de Nossa Senhora de Fátima, Gonçalo Salgueiro dá graças por ter dito «sim» ao desafio que Filipe La Féria lhe fez, enquanto Pedro Bargado, benfiquista, cantor e compositor, com os mesmos 29 anos, já tem “saudades” de um espectáculo “tão bom como o de Londres e, se calhar, melhor do que o de Nova Iorque”, palco da estreia mundial, em 1973.

AUDIÊNCIA – Com que sentimento chegam ao fim de «Jesus Cristo Superstar»?

PEDRO BARGADO – O espectáculo ainda não acabou e já estou farto de chorar. Tenho uma coisa comigo: sofro antes de as coisas acontecerem.

A – Já tem saudades?

PB – Já. Mas sempre fui assim. Quando fiz o ‘Canções da Nossa Vida’, para a televisão, prometi a mim mesmo que não ia chorar, mas, no último dia, foi mais forte do que eu. O Diogo Infante disse-me uma coisa que nunca mais esqueci: ‘Isto ainda agora está a começar para ti’. O programa funcionou como uma espécie de biblioteca para mim. Aprendi muito. Já conhecia muita música, mas o ‘Canções da Nossa Vida’ fez-me gostar de outros géneros de música. Portanto, quando o ‘Jesus Cristo Superstar’ chegar ao fim, já sei o que vai acontecer: vou ficar completamente de rastos. As chatices e os amuos são reacções que, para mim, só fazem sentido na hora em que acontecem, porque vivo muito as coisas. Mas tudo passa.

GONÇALO SALGUEIRO – Tenho tentado não pensar no último dia do espectáculo, porque tenho uma característica em comum com o Pedro Bargado: sou muito sensível. Mas já me apercebi que ele exterioriza as coisas de uma forma e eu de outra. Eu, normalmente, interiorizo. Nos últimos dias de ‘Jesus Cristo Superstar’, tenho pensado não tanto no espectáculo em si, mas, acima de tudo, nas pessoas que vou deixar para trás. Porque, em Lisboa, será um novo espectáculo, com novas almas. E eu acho que o espectáculo é sobretudo feito de almas. Por mais talento e melhor voz que se tenha, é a alma que faz a diferença. E há muitas almas que não vão para Lisboa e isso dói-me. Conheci pessoas extraordinárias no Porto. Passámos por muitas dificuldades e sofremos muito para fazer um dos melhores espectáculos que já vi até hoje em Portugal – e digo-o sem a menor das modéstias —, com um dos melhores elencos que já vi. As pessoas do Norte têm, de facto, uma qualidade extraordinária. Acima de tudo, têm uma qualidade humana como poucas vezes se encontra no teatro. Trabalhei mais de dois anos no Casino do Estoril e também fiz muitos amigos, como a Rita Guerra, por exemplo, mas, em ‘Jesus Cristo Superstar’, tudo tem sido diferente. Parece que nos tornamos numa família. E ir para Lisboa sem metade da família dói. Estou mesmo com muito medo, porque, provavelmente, não vou ser capaz de cantar no último dia. PB – Logicamente, o espectáculo é o mesmo, mas as pessoas também ajudam a fazer os espectáculos. ‘Jesus Cristo Superstar’ foi criado no Porto, em conjunto, ao fim de muitos e muitos ensaios, e, em Lisboa, não será nunca a mesa coisa, porque nem todos vão para baixo. Vai perder-se alguma coisa pelo caminho. O espectáculo pode ter maior ou menor sucesso, mas, do ponto de vista dos actores, vai ser sempre diferente. É o mesmo que um teclista sair de uma banda e chegar outro: vai, com toda a certeza, tocar a mesma música, mas a intensidade numa ou outra nota dada pelo antecessor será diferente. Porque todos somos diferentes. O problema é que os fãs já estavam habituados a uma certa sonoridade. O mesmo acontece com ‘Jesus Cristo Superstar’: vai ser o mesmo espectáculo, mas com outra bola.

A – No Porto, melhor era impossível?

PB – Sinceramente, não pensei em nada que tivesse a ver com o sucesso, ou o insucesso do espectáculo no Porto. Pensei apenas em dar o meu melhor todos os dias. Sem excepção. Cheguei mesmo a chatear-me num ensaio, a poucos dias da estreia, com os meus colegas, que ficaram aborrecidos comigo porque disse que queria silêncio. A minha única preocupação foi dar o melhor em cada espectáculo. E porquê? Porque quem for ver vai gostar do que viu e vai dizer em casa, aos amigos e no emprego. E mais: eu, quando pago bilhete para ir ver um espectáculo, estou à espera que os actores dêem o melhor que sabem e podem. Se assim não for, dá vontade de sair da sala. Os espectadores que enchem todos os dias o Rivoli merecem o meu melhor todos os dias. Se estiver uma sala cheia, mas ninguém estiver a gostar, à excepção de um espectador, a minha obrigação é dar o meu melhor para quem está a gostar.

GS – Em relação ao sucesso da peça no Porto, nunca tive dúvidas. Mas tive dúvidas de outra natureza.

A – Quais?

GS – Entrei no barco a meio, mas, assim que vi os actores a ensaiar, fiquei com a certeza de que era impossível fazer melhor. O meu maior receio foi saber se eu estaria à altura.

A – Por insegurança?

GS – Não. Por, infelizmente, haver um preconceito em Lisboa em relação à aceitação do público do Porto. Sempre estive consciente de que o espectáculo ia resultar, mas nunca pensei que tivesse quatro meses de casa cheia, principalmente em Agosto, mês em que o Teatro Rivoli nunca esteve aberto. Quem gosta e quem não gosta de Filipe Lá Féria gostou de ‘Jesus Cristo Superstar’. E isso diz tudo. Para mim, o maior triunfo foi saber que houve espectadores que não gostam de Filipe La Féria que ficaram rendidos ao que viram. Houve pessoas que me escreveram a dizer que a sua vida tinha mudado com ‘Jesus Cristo Superstar’. Uma menina de oito anos, que ficou a saber que eu faço colecção de terços, juntou o dinheiro da mesada para me oferecer um terço, com o qual ando. As pessoas que vão ver ‘Jesus Cristo Superstar’ saem do espectáculo próximas de nós. Nos meus espectáculos, as pessoas também vêm ter comigo, mas, no Porto, assisti a extraordinárias manifestações de carinho. Nunca vi tanto amor e tanta dedicação, direccionados não apenas a mim, mas a todos os actores que fazem parte do elenco. Fiz ‘Amália’ com Filipe La Féria durante um ano e as pessoas também adoraram. Mas acho que não importava quem estivesse em palco. A personagem de Amália era tudo. Em ‘Jesus Cristo Superstar’, é diferente. Aliás, para mim, o papel principal não é o de Jesus de Nazaré, mas o de Judas Iscariotes. Foi a primeira coisa que disse ao Pedro Bargado quando o conheci. Quanto ao Porto, não tenho palavras para agradecer as manifestações de carinho e de amor de que tenho sido objecto. E quem diz eu diz qualquer um dos outros actores. Já fui às compras com o Pedro Bargado e as pessoas vêm ter connosco, pedem autógrafos, fazem perguntas. Já assinei talões de metro, de supermercado, testas… Já tive mesmo pessoas que se agarraram a mim a chorar no supermercado. A fadista Fernanda Maria, antes de eu entrar no espectáculo, disse-me que o público do Porto era o mais difícil do País, por ser o mais autêntico. Quando gostam, dão tudo; quando não gostam, atiram com as cadeiras. O que só fez aumentar a minha ansiedade. Não sabia se era capaz de interpretar o papel que me estava destinado. Era uma coisa que estava completamente longe dos meus horizontes. Para piorar as coisas, e não quero estar a trocar galhardetes com o Pedro Bargado, tive oportunidade de ouvir das melhores vozes que ouvi em toda a minha vida – e eu gosto de música clássica e estou habituado a ouvir boas vozes. Tem uma voz privilegiadíssima e uma presença extraordinária em palco. As mulheres ficam loucas… Ou seja, é preciso muita coragem para estar ao pé do Pedro Bargado em palco. Já tinha feito ‘Amália’ e ‘Egoísta’, mas estou, acima de tudo, habituado a fazer espectáculos a solo. De um momento para o outro, vejo-me ao lado de actores com um talento incrível e à frente de um público muito exigente. Para mim, a representação foi o maior desafio do espectáculo ‘Jesus Cristo Superstar’. Tive duas horas para aceitar o convite.

A – Ainda hesitou?

GS – Não. Fui, pura e simplesmente, encostado contra a parede. Não estava à espera do convite e não sabia o que havia de fazer à minha vida. Não sabia o que me esperava. Aliás, a única coisa que conhecia da peça era a música da Madalena, porque me lembrava de ouvir a minha mãe cantá-la. É, de facto, uma música muito bonita e, para mim, a mais bonita da peça, porque eu gosto das coisas tristes, que falam ao coração. Quando entrei pela primeira vez no Rivoli, fiquei ainda com mais medo, ao ver os actores a fazer coisas quase sobrehumanas. De repente, dou por mim a ser maltratado, a ter quedas aparatosas no palco, que me estão a deixar todo marcado, a ser chicoteado, na cara, nas mãos, nos olhos… O mais difícil, para mim, são as últimas frases e a minha última cena depois do enforcamento de Judas, quando não tenho nada para cantar. Ao contrário de, por exemplo, o Pedro Bargado, que é um actor extraordinário, a minha dificuldade é controlar-me para não me deixar levar pelas emoções, perder a personagem e passar a ser eu. Porque, na verdade, muitas vezes fico assustado com o que se está a passar à minha volta. Mas não posso ser o Gonçalo Salgueiro. Tenho de ser apenas Jesus de Nazaré. É terrível. Tenho de manter sempre uma certa sobriedade, quando tudo o que se passa à minha volta é assustador. Aliás, estou farto de ser chamado à atenção, mas não consigo não chorar quando, na peça, tenho de dizer: ‘Onde está a minha mãe?‘. Choro sempre. Não consigo evitar. Muitas vezes, ainda antes de proferir as palavras finais, já o público está a chorar e a soluçar. É inevitável. Só Deus sabe, por vezes, como chego ao fim do espectáculo, que é de uma intensidade tremenda. Aliás, já me aconteceu desfalecer no fim. Como também já aconteceu ao Pedro Bargado. E já me aconteceu ter ataques de choro e não conseguir libertar-me do que se tinha passado em palco. É um espectáculo muito forte e é natural que quem está do outro lado também fique assim.

PB – Os dois papéis mais difíceis são, de facto, o de Judas e o de Jesus. O meu é uma espécie de montanha-russa que tem de se fazer sem ir muito alto, nem muito baixo, mas o de Jesus também não é nada fácil, porque tem de se manter um registo a direito e não ter altos e baixos. Desengane-se quem ache que é fácil. Se calhar, é mais difícil manter uma linha de serenidade e de controlo do que ter altos e baixos, como se vê, por exemplo, num Rui de Carvalho.

Adorava fazer revista e cinema

A – É verdade que já compôs para Pedro Abrunhosa?

PB – Tenho músicas em novelas e a sonoplastia de todas as peças que fiz no Pequeno Palco, mas nunca compus para Pedro Abrunhosa.

A – Não gosta de Pedro Abrunhosa?

PB – Gosto. Ou melhor, não gosto muito como cantor. Agora, as músicas são fantásticas.

GS – Adorava que Pedro Abrunhosa fizesse uma música para mim. Tem um talento imenso. E a inteligência de não ter a pretensão de ser cantor. Pedro Abrunhosa vem na linha dos cantores franceses dos anos 60, que eram ‘dizers’ e não cantores de fogo-de-artifício. E tem outra vantagem: escreve para ele. É um cantor cujo mérito e trabalho aprecio.

A – Mais do que Marisa?

GS – Eu sou amigo da Marisa, o que é uma coisa diferente. Conheço- a há muitos anos. Começou ao mesmo tempo do que eu. Mas ela pegou fogo, explodiu e lá foi pelo Mundo fora, como vão alguns dos fadistas portugueses. A única diferença estará na estratégia, bem definida, ou não estivesse nomeada para um ‘Grammy’.

A – Vai voltar ao fado?

GS – Nunca saí do fado. Já tenho dois concertos marcados para Novembro, no Casino do Estoril e da Figueira da Foz.

A – E o teatro?

GS – Já tive convites para fazer filmes, num dos quais tinha de interpretar o papel de anjo. Sinceramente, depois de ter feito Jesus de Nazaré, sinto-me preparado para fazer qualquer papel, por mais difícil que seja — e são-no com toda a certeza. Para já, trabalhar com Filipe La Féria é como ir à tropa. Ou pior. Exige dos actores aquilo que ninguém exige. Mas os resultados estão à vista. Por vezes, nem percebemos por que exige tanto, mas, depois de vir falar connosco, entendemos o que quer. Sabe como levar os actores. Vê as dificuldades de cada um e consegue levá-los ao ponto. Agora, nunca vou deixar de cantar fado. Fazer outras coisas? Mas sempre fiz outras coisas, nomeadamente outros géneros de música. Estou aberto a tudo o que seja arte e que seja bom. Por exemplo, adorava fazer revista e cinema. Mas já não sei se teria tarimba para fazer novelas, porque, pelos vistos, entra-se no estúdio às sete da minha e sai-se às duas do outro dia.

PB – No teatro, nem sempre é a traço grosso, mas, quando é, não pode cair na caricatura, nem no ridículo. A coisa tem sempre de ser verdadeira. Em televisão – e ainda mais em cinema –, é tudo feito de pormenores. Um sorriso mais expansivo pode levar o telespectador a pensar que o actor é um canastrão. Com muito facilidade. Enquanto no teatro é bola de fogo lá para fora, em televisão, é a mesma coisa, mas contido. É tudo natural, mas em pequeno. Difícil é mesmo ser bom em televisão e em teatro. Aliás, quem o for, é realmente bom actor. O que é raro. A Júlia Roberts, por exemplo, foi fazer uma peça de teatro e foi vaiada. Quando estou a fazer teatro, nunca quero microfone, porque gosto de projectar a voz. O espectador que está na última fila tem de me ouvir. E ver. São mundos diferentes, mas quer um, quer outro, são estimulantes.

A – De qual gosta mais?

PB – Gosto mais de fazer teatro.

Não quero sonhar

A – O talento chega para se atingir a notoriedade que os actores de «Jesus Cristo Superstar» hoje já têm?

GS – Nem sempre se singra por causa do talento. O trabalho e a inteligência são essenciais. Ou seja: quando existe muito talento e pouca inteligência, é difícil. O melhor é aliar as duas coisas. É importante a formação, mas uma das maiores artistas portuguesas de todos os tempos não sei se acabou a 4.ª classe. Foi Amália quem abriu as portas à música portuguesa e a levou aos quatro cantos do Mundo. Ia para estúdio sem saber as letras. Como diz o Pedro Bargado, a Amália vivia realmente as coisas. Nunca planeava um espectáculo. Portanto, o talento tem de vir acompanhado de inteligência. Uma Amália, uma Edit Piaf, ou uma Fitzerald são de combustão. Aparecem muito poucas em cada século. Claro que depende sempre do que se está a fazer. O fado, por exemplo, é altamente livre na sua concepção. Peço desculpa, mas também se vê muita gente a fazer coisas sem talento. Trabalham muito, chegam a certos patamares, mas não cantam afinadas, não sabem cantar português e não sabem representar. E eu sou muito exigente. Antes de ser fadista, ou actor, sou público. Há muita gente que goza comigo porque, mesmo quando não estou a actuar, vou ver os espectáculos de ‘Jesus Cristo Superstar’. E porquê? Porque, para mim, é importante saber o que está o público a ver e a sentir.

A – E faz autocrítica?

GS – Eu sou o meu pior crítico. Sou quase autodestrutivo.

A – Não é Filipe La Féria?

GS – Não. Isso é um mito. Filipe La Féria tem sido extraordinário para mim. Sempre que fala comigo, é de um carinho e de uma ternura inexcedíveis. Portanto, para mim, é também importante perceber o que se passa fora do palco. Aliás, como disse o Pedro Bargado — e muito bem —, quem paga bilhete está à espera de ver o melhor. Quando vou ver um espectáculo, também estou à espera de ver o melhor. Os actores de ‘Jesus Cristo Superstar’ também têm de dar sempre o melhor. Logicamente, do ponto de vista humano, é impossível estar sempre bem, mas o público não se pode aperceber. É claro que há pessoas que enchem estádios, como a Britney Spears, que não conseguem cantar afinadas fora do estúdio. Mas, se não existe talento, existe uma máquina. É mais uma constatação do mundo em que se vive. É aquilo que costumo chamar de mais um caso McDonald’s. Hoje, é-se consumido, mas, amanhã, já não interessa para nada. Agora, quando existe talento e passa para o outro lado, toca o coração das pessoas e já não sai. É o truque que faz de Amália e de Piaff, por exemplo, imortais. Ou de Callas e Sinatra. Passaram para dentro de nós e cá vão continuar. Não é por acaso que Amália e Callas são das artistas que mais vendem no Mundo. Mas já morreram: uma há 30 anos e outra há quase 10. Se hoje alguém canta fado no estrangeiro, à mulher que vendia limões no cais também o deve.

A – O teatro também já tem «fast food»?

PB — Também. Mas falar de colegas é muito difícil. Porque há sempre o risco de sermos mal interpretados. Por exemplo, os ‘Morangos com Açúcar’…

A – …Em que também participou.

PB – Participei em apenas dois episódios. E porque precisava. Para comer. Fiz um dia uma cena em que se dá uma explosão na escola, vem a caracterização, suja-me as mãos e a cara e eu pergunto se, numa explosão, a roupa também não é atingida. Disseram logo que não podiam estar a sujar o fato.

GS – Quando aparecem as Operações isto, as Chuvas de Estrelas e as Academias não sei do quê, as pessoas são expostas de uma forma tremenda por três ou quatro meses, ganham, são ídolos em Portugal, mas, hoje, já ninguém sabe onde estão. Ou seja, criam falsas esperanças nas pessoas. Há que ter respeito pelas pessoas, a quem lhes é prometido contratos e mais contratos. Portugal tem mercado para três ou quatro e não para 20 ou 30. Fazem estes concursos para se alimentarem da imagem das pessoas, algumas com imenso talento, prometem- lhes mundos e fundos e acabam por as destruir. PB – Destroem-lhes tudo: os sonhos e a auto-estima. Algumas conseguem passar por cima, mas outras continuam a viver o sonho. Quem quer ser cantor no meio musical sofre. E sofre bem. Tem de penar muito e não vai ser um concurso de televisão que o vai levar a ser artista, ou a gravar um disco. O talento, o empenho e a dedicação são decisivos. E acreditar no que estão a fazer. Quando se acredita no que se está a fazer, tem de se ir em frente. Mas sem pisar em ninguém. Até posso gravar um mau disco, mas, ao menos, concretizei o meu sonho. Se não fui mais longe, foi porque realmente não tinha talento. E, aí, tenho de ser inteligente para desistir e sair. A Madonna, por exemplo, não tem uma grande voz, mas foi inteligente na forma como construiu a carreira.

A – Também tem sonhos?

PB – Quero apenas trabalhar. Cantar e representar. Não quero sonhar, porque também já tive as minhas desilusões.

A – Desiludiu-se com quê?

PB – Desiludiu-me quando comecei a cantar. O que todos querem quando começam a cantar é gravar um disco. E, quando as coisas não acontecem, desmoraliza- se.

A – Tinha jeito para cantar?

PB – Tinha. Sinceramente. Cheguei a ir ao ‘Chuva de Estrelas’, numa altura em que este tipo de programas ainda era sério.

A – E já não pensa gravar um disco?

PB – Quando tiver que ser, será. Tenho feito as minhas músicas e trabalhado no que gosto de fazer, que é compor, representar e cantar. Quando as coisas tiverem de acontecer, vão acontecer. Para já, tem de ser uma coisa com a qual me identifique verdadeiramente. Não quero fazer por fazer. O disco tem de ser a minha cara e uma extensão de mim.